terça-feira, 24 de maio de 2011

Corrida da Geira / IV Ultra Trail Via Nova Geira Romana

Um bom evento nasce invariavelmente de um grande sonho. Na tarde do sábado anterior ao Ultra Trail da Geira, na caminhada que fizemos a verificar as fitas do último troço, José Ribeiro falava de um que tem muito presente: sonha organizar uma prova numa praia a norte, em noite de maré baixa, com gente que segure archotes a cada quilómetro e assim ilumine a passagem. Uma corrida singular que fique bem marcada na mente de quem adora correr. José falava-nos do topo das suas pernas elásticas enquanto confessava somar nelas já 50 anos de corridas, primeiro com os irmãos, depois como atleta federado e hoje em dia como organizador, animador e até imperador (!?) de provas de Trail :)

Subíamos a passo rápido a encosta pelo trilho de S.Gens, junto a Caldelas. Verificava as fitas, lembrava-se das que colocara aqui ou ali e já lá não estavam e falava da preocupação para que tudo estivesse bem marcado, não havendo hesitação para quem corre. Abordou uma senhora que trabalhava num socalco abaixo do caminho e lhe tinha dado um saco de laranjas na semana passada. Depois outra, da parte de cima, para colocar fita no muro e lhe explicar que correria por ali muita gente no dia seguinte. Nem sempre as fitas ficam onde são postas, são vários dias para as colocar e não é raro serem reaproveitadas por um agricultor mais precavido para espantar pardais numa plantação próxima. Daí que o contacto com os locais seja vantajoso para as duas partes: uns ficam agradados pelos dois dedos de conversa, os outros garantem que as fitas não mudam de local antes da prova :)

Continuámos. Enquanto subíamos a encosta, crescia o meu arrependimento: José explicava como a Via Nova, a.k.a. Geira Romana, percorria as encostas da serra de Sta. Isabel sensivelmente à mesma cota, pelo que a altimetria do ultra trail não seria obstáculo. Por isso me questionava "que treta de ideia a minha, ter feito a inscrição na corrida dos (apenas) 15km em vez dos magníficos 43…??!!"


Fruto de uma iniciativa público-romanó-privada dos idos anos 80 do século I d.C., a 'via' por onde iríamos correr no dia seguinte era a que ligava Asturica Augusta a Bracara Augusta, actuais Astorga e Braga, por 215 milhas de matas e terras de pasto, servindo a actividade comercial, a extracção mineira em Espanha e a deslocação dos exércitos do império.

Os marcos miliários de granito marcavam as milhas, de 1000 em 1000 passos (1485 metros, mais sandália menos sandália),e indicavam a distância à cidade de origem. Ainda por lá se encontram, maiores os mais antigos, com inscrições à altura de visão de quem viaja(va) a cavalo ou em carro de bois.

Nos tempos de hoje a floresta não é tão cerrada mas passagens como a da mata da Albergaria ou aquela junto à albufeira de Vilarinho das furnas proporcionam uma experiência única a quem a decide percorrer!
Descemos novamente a Caldelas, José Ribeiro tinha de ir a Braga buscar vestes romanas e voltar a tempo do briefing, pelas 19h30. Enquanto isso, o 'general' José Moutinho molhava as 'sandálias' na ribeira a espalhar as fitas no húmido troço final. Recolhi o peitoral, fomos fazer o check in no alojamento e voltámos às piscinas para ouvir o imperador em trajes de soldado sobre todos os pormenores do dia seguinte.

E que dia seguinte!! Nem vale a pena descrever, as palavras não seriam suficiente dignas, ficam algumas fotos e muita vontade de correr a longa em 2012:



Link para slideshow ; Fotos: Ruben Huertas Otero; Sérgio Miranda  ;
Via Nova Geira Romana na Wikipedia

Garmin<Corrida da Geira - a minha prova

Agradecimento: à Confraria Trotamontes e ao .COM, Grão-mestre e ex-monge José Moutinho, José Carlos Pires e José Ribeiro, de parabéns pela estupenda organização. Enquadramento histórico, transportes, abastecimentos, assistência e almoço -tudo com excelente nível e sem falhas- proporcionaram um óptimo fim de semana para os atletas e acompanhantes na região do Gerês!

Website: http://www.pontocom.pt/actividades/2011UltraTrailGeira/index.php

terça-feira, 10 de maio de 2011

1º Trail do Castelo de Abrantes

A primeira edição de qualquer evento implica sempre 'arestas a limar'. Este Trail não foi excepção. Mas vou tentar lembrar-me apenas dos aspectos positivos porque os negativos já foram debatidos e serão decerto corrigidos em 2012. O esforço e coragem dos membros do COA para se lançarem em Abrantes nesta organização numa modalidade ainda tão pouco divulgada devem ser admirados!
Tudo a que tivémos direito:


Logo para começar o pelotão precipitou-se numa descida para, só passados uns bons 300m, alguém na cauda se aperceber de que todos os atletas haviam falhado a viragem…!! Alguns gritos e assobios depois, começaram a cavalgar na direcção oposta e retomaram o trilho certo. Nada que seja inédito neste tipo de provas, a não ser o facto de ter ocorrido logo na PRIMEIRA viragem!:) Os troços iniciais da prova ficaram-me gravados por dois motivos: muita pedra solta e roliça, o que acrescentava emoção nas subidas mas sobretudo nas descidas(!) e um aroma forte a todas as ervas aromáticas que compõem a vegetação nesta época do ano..!

Numa das passagens em viadutos sob a A23, houve oportunidade de refrescar os pés (outras opções: 'até ao joelho', 'até à cintura' ou 'corpo todo' também estavam disponíveis, conforme a trajectória escolhida dentro da ribeira ). No briefing inicial já tinham dado a dica: "ao saltar para a ribeira, à saída do túnel, façam-no para a esquerda, porque à direita ficarão imersos até à cintura". E era mesmo assim. Mesmo com a água pouco turva e boa visibilidade, muitos foram os que, com as ganas de correr, trocaram a esquerda pela direita e refrigeraram tudo a que tinham direito, para não falar dos que tropeçavam nas pedras do leito…!! Sorte que nada choveu nos dias anteriores, senão a única opção disponível seria 'até ao pescoço'!). Pés ensopados e algumas pedras nas sapatilhas, lá se retomou o sobe e desce nas encostas de pedra solta.

Já em Alferrarede, a organização assegurou a passagem no interior de uma quinta, hoje em dia dedicada à produção de Azeite, e cujas casas, estábulos e armazéns de fachadas impecavelmente conservadas mantêm a arquitectura tradicional desta região e em tudo semelhante às que se encontram no Alto Alentejo. Muitos pontos para esta passagem!

O primeiro abastecimento sólido, aos 23kms, estava munido de fruta como eu gosto. Laranjas aos quartos e bananas cortadas fazem maravilhas para confortar o estômago para mais uns quilómetros. O troço seguinte foi plano, em direcção ao Tejo e ao 'Aquapolis', a zona fluvial de Abrantes. A alegria e agitação do pessoal da canoagem (era dia de campeonato nacional), contrastava com a pouca energia que eu levava nas pernas… e ainda faltava a diabólica subida ao castelo...

A organização tinha preparado a pior das 'paredes' para que trepássemos à fortaleza… Conheço três ou quatro caminhos para subir mas o trajecto escolhido fez uso da encosta mais íngreme, frente à escola preparatória (lá estudei 2 anos, era pequeno). Não se colocou pé em nada semelhante a uma vereda ou caminho, tudo era trilho inventado, erva cortada/acamada e umas fitas dispersas pelo mato seco daquela encosta...


Já no interior das muralhas, à sombra de um gigantesco plátano, estava montado o segundo abastecimento. Não houve muito tempo para ver as vistas nem oportunidade de subir à torre de menagem porque era tempo de sair e cruzar as ruas da cidade. Nesta fase seguia a par com outro atleta, José Gabriel, íamos na conversa quando reparámos noutro atleta à beira de uma carrinha de venda ambulante. Estava a comprar….bolos?!! Radiante, de saco de plástico na mão, soltou um sorridente "quem vai para o mar avia-se em terra!" e seguiu atrás de nós no seu ritmo. Ali naquele momento tive pena de não levar dinheiro porque me estava mesmo a apetecer uma boa tigelada!!!  :)

Rumávamos novamente ao Tejo, desta vez para um valente sobe e desce na encosta com vista para o rio e para o açude insuflável. Existiam por ali mais marcações, algumas fitas a demarcar um percurso de btt downhill, o que só confirmava o que as minhas pernas já sabiam: as subidas eram mesmo agressivas… 

Ao lado do complexo desportivo, junto às piscinas, estava montado o último abastecimento. O banho e o almoço eram ali mesmo mas nem todos o sabiam e os 3 /4km que faltavam eram para cumprir! Pouco mais à frente, abaixo do quartel do exército, vejo alguém deitado numa clareira ao lado do trilho. Perguntei; não era lesão, deve ter sido um desejo súbito de uma sesta! Os quilómetros já pesavam… Logo a seguir pisava-se novamente o alcatrão e lá estava a segunda indicação mais desejada do dia: ULTIMO KM  Era uma recta na direcção do parque urbano que eu tinha abandonado faziam já 4h30!… 

No parque fomos presenteados com mais uns ziguezagues no passadiço de madeira e pela imposição de contornar o lago artificial, o castigo ainda não tinha acabado(?) Só ecoava uma voz pelo parque, a de uma atleta cheia de força que incentivava os que iam chegando. E lá cheguei à meta, sem medalha nem aplausos mas contente por ter terminado e mais ainda por ir almoçar… isto do Trail abre bem o apetite!

Alguns pormenores:

Pormenor da passagem por BAIXO da A23 na encosta do vale de Rio de Moinhos


Pormenor da partida (com engano colectivo na primeira viragem!)e chegada ao Parque Urbano de S.Lourenço



Ultima hora: Videos partilhados pelo atleta Jorge Serrazina no FB do COA



sexta-feira, 6 de maio de 2011

treinos



Trabalho agora 'na' Perafita e passo obrigatoriamente mais tempo na margem norte do Douro. Logo, obrigatoriamente, enfrento o transito das 18h de volta a Gaia. Ou então não!!

Se há praia de Leça a Angeiras e um passadiço de madeira a perder de vista por cima das dunas, vou passar a treinar por ali sempre que não tenha compromissos pós-tauromáquicos...!

Podia ficar numa esplanada a sorver a espuma de um fino? Podia, mas não era a mesma coisa:) 

Terça parti de Leça, passei pelo famoso Cabo do Mundo (!) que fica logo ao lado do Paraíso(?!) e fui até ao Funtão. Há muitos arruamentos em obras, em plena preparação para a época balnear, paralelos soltos eram mato. É como treinar nos trilhos :)


(Prevê-se aguaceiro do bom, amanhã no 1º Trail do Castelo de Abrantes... o treino tem sido miserável, à luta com bolhas nos pés, estou a ver que só mesmo um bom arrefecimento líquido poderá ajudar a diluir os 35 kms! Pergunto-me quem é que vai subir as escadas da oficina na segunda-feira por mim...?:))

Já me enviaram o dorsal (as pessoas de Abrantes são conhecidas pela sua eficiência!:)) :