Um bom evento nasce invariavelmente de um grande sonho. Na tarde do sábado anterior ao Ultra Trail da Geira, na caminhada que fizemos a verificar as fitas do último troço, José Ribeiro falava de um que tem muito presente: sonha organizar uma prova numa praia a norte, em noite de maré baixa, com gente que segure archotes a cada quilómetro e assim ilumine a passagem. Uma corrida singular que fique bem marcada na mente de quem adora correr. José falava-nos do topo das suas pernas elásticas enquanto confessava somar nelas já 50 anos de corridas, primeiro com os irmãos, depois como atleta federado e hoje em dia como organizador, animador e até imperador (!?) de provas de Trail :)
Subíamos a passo rápido a encosta pelo trilho de S.Gens, junto a Caldelas. Verificava as fitas, lembrava-se das que colocara aqui ou ali e já lá não estavam e falava da preocupação para que tudo estivesse bem marcado, não havendo hesitação para quem corre. Abordou uma senhora que trabalhava num socalco abaixo do caminho e lhe tinha dado um saco de laranjas na semana passada. Depois outra, da parte de cima, para colocar fita no muro e lhe explicar que correria por ali muita gente no dia seguinte. Nem sempre as fitas ficam onde são postas, são vários dias para as colocar e não é raro serem reaproveitadas por um agricultor mais precavido para espantar pardais numa plantação próxima. Daí que o contacto com os locais seja vantajoso para as duas partes: uns ficam agradados pelos dois dedos de conversa, os outros garantem que as fitas não mudam de local antes da prova :)
Continuámos. Enquanto subíamos a encosta, crescia o meu arrependimento: José explicava como a Via Nova, a.k.a. Geira Romana, percorria as encostas da serra de Sta. Isabel sensivelmente à mesma cota, pelo que a altimetria do ultra trail não seria obstáculo. Por isso me questionava "que treta de ideia a minha, ter feito a inscrição na corrida dos (apenas) 15km em vez dos magníficos 43…??!!"
Fruto de uma iniciativa público-romanó-privada dos idos anos 80 do século I d.C., a 'via' por onde iríamos correr no dia seguinte era a que ligava Asturica Augusta a Bracara Augusta, actuais Astorga e Braga, por 215 milhas de matas e terras de pasto, servindo a actividade comercial, a extracção mineira em Espanha e a deslocação dos exércitos do império.
Os marcos miliários de granito marcavam as milhas, de 1000 em 1000 passos (1485 metros, mais sandália menos sandália),e indicavam a distância à cidade de origem. Ainda por lá se encontram, maiores os mais antigos, com inscrições à altura de visão de quem viaja(va) a cavalo ou em carro de bois.
Nos tempos de hoje a floresta não é tão cerrada mas passagens como a da mata da Albergaria ou aquela junto à albufeira de Vilarinho das furnas proporcionam uma experiência única a quem a decide percorrer!
Descemos novamente a Caldelas, José Ribeiro tinha de ir a Braga buscar vestes romanas e voltar a tempo do briefing, pelas 19h30. Enquanto isso, o 'general' José Moutinho molhava as 'sandálias' na ribeira a espalhar as fitas no húmido troço final. Recolhi o peitoral, fomos fazer o check in no alojamento e voltámos às piscinas para ouvir o imperador em trajes de soldado sobre todos os pormenores do dia seguinte.
E que dia seguinte!! Nem vale a pena descrever, as palavras não seriam suficiente dignas, ficam algumas fotos e muita vontade de correr a longa em 2012:
Link para slideshow ; Fotos: Ruben Huertas Otero; Sérgio Miranda ;
Via Nova Geira Romana na Wikipedia
Garmin<Corrida da Geira - a minha prova
Agradecimento: à Confraria Trotamontes e ao .COM, Grão-mestre e ex-monge José Moutinho, José Carlos Pires e José Ribeiro, de parabéns pela estupenda organização. Enquadramento histórico, transportes, abastecimentos, assistência e almoço -tudo com excelente nível e sem falhas- proporcionaram um óptimo fim de semana para os atletas e acompanhantes na região do Gerês!
Website: http://www.pontocom.pt/actividades/2011UltraTrailGeira/index.php
terça-feira, 24 de maio de 2011
terça-feira, 10 de maio de 2011
1º Trail do Castelo de Abrantes
A primeira edição de qualquer evento implica sempre 'arestas a limar'. Este Trail não foi excepção. Mas vou tentar lembrar-me apenas dos aspectos positivos porque os negativos já foram debatidos e serão decerto corrigidos em 2012. O esforço e coragem dos membros do COA para se lançarem em Abrantes nesta organização numa modalidade ainda tão pouco divulgada devem ser admirados!
Logo para começar o pelotão precipitou-se numa descida para, só passados uns bons 300m, alguém na cauda se aperceber de que todos os atletas haviam falhado a viragem…!! Alguns gritos e assobios depois, começaram a cavalgar na direcção oposta e retomaram o trilho certo. Nada que seja inédito neste tipo de provas, a não ser o facto de ter ocorrido logo na PRIMEIRA viragem!:) Os troços iniciais da prova ficaram-me gravados por dois motivos: muita pedra solta e roliça, o que acrescentava emoção nas subidas mas sobretudo nas descidas(!) e um aroma forte a todas as ervas aromáticas que compõem a vegetação nesta época do ano..!
Numa das passagens em viadutos sob a A23, houve oportunidade de refrescar os pés (outras opções: 'até ao joelho', 'até à cintura' ou 'corpo todo' também estavam disponíveis, conforme a trajectória escolhida dentro da ribeira ). No briefing inicial já tinham dado a dica: "ao saltar para a ribeira, à saída do túnel, façam-no para a esquerda, porque à direita ficarão imersos até à cintura". E era mesmo assim. Mesmo com a água pouco turva e boa visibilidade, muitos foram os que, com as ganas de correr, trocaram a esquerda pela direita e refrigeraram tudo a que tinham direito, para não falar dos que tropeçavam nas pedras do leito…!! Sorte que nada choveu nos dias anteriores, senão a única opção disponível seria 'até ao pescoço'!). Pés ensopados e algumas pedras nas sapatilhas, lá se retomou o sobe e desce nas encostas de pedra solta.
Já em Alferrarede, a organização assegurou a passagem no interior de uma quinta, hoje em dia dedicada à produção de Azeite, e cujas casas, estábulos e armazéns de fachadas impecavelmente conservadas mantêm a arquitectura tradicional desta região e em tudo semelhante às que se encontram no Alto Alentejo. Muitos pontos para esta passagem!
O primeiro abastecimento sólido, aos 23kms, estava munido de fruta como eu gosto. Laranjas aos quartos e bananas cortadas fazem maravilhas para confortar o estômago para mais uns quilómetros. O troço seguinte foi plano, em direcção ao Tejo e ao 'Aquapolis', a zona fluvial de Abrantes. A alegria e agitação do pessoal da canoagem (era dia de campeonato nacional), contrastava com a pouca energia que eu levava nas pernas… e ainda faltava a diabólica subida ao castelo...
A organização tinha preparado a pior das 'paredes' para que trepássemos à fortaleza… Conheço três ou quatro caminhos para subir mas o trajecto escolhido fez uso da encosta mais íngreme, frente à escola preparatória (lá estudei 2 anos, era pequeno). Não se colocou pé em nada semelhante a uma vereda ou caminho, tudo era trilho inventado, erva cortada/acamada e umas fitas dispersas pelo mato seco daquela encosta...
Pormenor da passagem por BAIXO da A23 na encosta do vale de Rio de MoinhosJá no interior das muralhas, à sombra de um gigantesco plátano, estava montado o segundo abastecimento. Não houve muito tempo para ver as vistas nem oportunidade de subir à torre de menagem porque era tempo de sair e cruzar as ruas da cidade. Nesta fase seguia a par com outro atleta, José Gabriel, íamos na conversa quando reparámos noutro atleta à beira de uma carrinha de venda ambulante. Estava a comprar….bolos?!! Radiante, de saco de plástico na mão, soltou um sorridente "quem vai para o mar avia-se em terra!" e seguiu atrás de nós no seu ritmo. Ali naquele momento tive pena de não levar dinheiro porque me estava mesmo a apetecer uma boa tigelada!!! :)
Rumávamos novamente ao Tejo, desta vez para um valente sobe e desce na encosta com vista para o rio e para o açude insuflável. Existiam por ali mais marcações, algumas fitas a demarcar um percurso de btt downhill, o que só confirmava o que as minhas pernas já sabiam: as subidas eram mesmo agressivas…
Ao lado do complexo desportivo, junto às piscinas, estava montado o último abastecimento. O banho e o almoço eram ali mesmo mas nem todos o sabiam e os 3 /4km que faltavam eram para cumprir! Pouco mais à frente, abaixo do quartel do exército, vejo alguém deitado numa clareira ao lado do trilho. Perguntei; não era lesão, deve ter sido um desejo súbito de uma sesta! Os quilómetros já pesavam… Logo a seguir pisava-se novamente o alcatrão e lá estava a segunda indicação mais desejada do dia: ULTIMO KM Era uma recta na direcção do parque urbano que eu tinha abandonado faziam já 4h30!…
No parque fomos presenteados com mais uns ziguezagues no passadiço de madeira e pela imposição de contornar o lago artificial, o castigo ainda não tinha acabado(?) Só ecoava uma voz pelo parque, a de uma atleta cheia de força que incentivava os que iam chegando. E lá cheguei à meta, sem medalha nem aplausos mas contente por ter terminado e mais ainda por ir almoçar… isto do Trail abre bem o apetite!
Alguns pormenores:
Pormenor da partida (com engano colectivo na primeira viragem!)e chegada ao Parque Urbano de S.Lourenço
Ultima hora: Videos partilhados pelo atleta Jorge Serrazina no FB do COA
sexta-feira, 6 de maio de 2011
treinos
Trabalho agora 'na' Perafita e passo obrigatoriamente mais tempo na margem norte do Douro. Logo, obrigatoriamente, enfrento o transito das 18h de volta a Gaia. Ou então não!!
Se há praia de Leça a Angeiras e um passadiço de madeira a perder de vista por cima das dunas, vou passar a treinar por ali sempre que não tenha compromissos pós-tauromáquicos...!
Podia ficar numa esplanada a sorver a espuma de um fino? Podia, mas não era a mesma coisa:)
Terça parti de Leça, passei pelo famoso Cabo do Mundo (!) que fica logo ao lado do Paraíso(?!) e fui até ao Funtão. Há muitos arruamentos em obras, em plena preparação para a época balnear, paralelos soltos eram mato. É como treinar nos trilhos :)
(Prevê-se aguaceiro do bom, amanhã no 1º Trail do Castelo de Abrantes... o treino tem sido miserável, à luta com bolhas nos pés, estou a ver que só mesmo um bom arrefecimento líquido poderá ajudar a diluir os 35 kms! Pergunto-me quem é que vai subir as escadas da oficina na segunda-feira por mim...?:))
Já me enviaram o dorsal (as pessoas de Abrantes são conhecidas pela sua eficiência!:)) :
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